top of page

 

 

 

Expedicionário Sr. Justino Alfredo

 

É com grande tristeza que a Diretoria da Associação dos Expedicionários Campineiros vem informar o falecimento no dia de hoje, 12 de abril de 2021, do Sr. Justino Alfredo, um herói da Força Expedicionária Brasileira (FEB), nascido em setembro de 1919, em Campinas, SP. Este ano, iria completar 102 anos, com muita lucidez e era o último pracinha campineiro ainda vivo.


Durante a Segunda Guerra Mundial, fez parte da FEB, integrando a 5ª Companhia do 2º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria (6º RI). Embarcou no 1º Escalão da FEB para a Itália aos 24 anos em junho de 1944. Participou da linha de frente na Itália, em combates como o de Monte Castello, dentro de trincheiras por longos períodos em frio intenso, o que causou nele uma importante doença circulatória, conhecida como “pé-de-trincheira”, que o impossibilitou de andar e teve que ficar internado por longo período. Quando voltou ao Brasil, no fim da Guerra, ainda ficou um ano doente sem poder trabalhar. Foi um dos fundadores da Associação dos Expedicionários Campineiros e sempre esteve envolvido em todas as atividades, ajudando os amigos, participando dos eventos e contando suas memórias do período da guerra. Sempre muito cordial, amigo e disponível a quem quisesse conhecer as histórias, contava com muitos detalhes os fatos que viveu com seus companheiros da FEB neste difícil período. Hoje ele se foi e nos deixa um vazio insubstituível. Que seja recebido pelos seus queridos companheiros na nova morada celestial. A Associação dos Expedicionários Campineiros agradece ao querido herói campineiro e envia os sinceros sentimentos à sua família e à toda família Febiana, que tem nele uma referência. Cumpriu bravamente seu papel e a ele, todo o nosso respeito e as nossas homenagens.

“......Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta........”

Hino Nacional Brasileiro

Associação dos Expedicionários Campineiros

Justino-1.png
Justino-2.png

Foi sepultado com Honras Militares no Cemitério Parque Flamboyant, em Campinas, no dia 13 de abril de 2021.

Homenagem dos associados da Associação dos Expedicionários Campineiros

Sr. Justino Alfredo – 101 anos – de 24/09/1919 a 12/04/2021
 

Caros amigos e familiares,


Ontem o dia amanheceu sem mais um Verdadeiro Herói Nacional e Campineiro de nascimento, o nosso querido Seu Justino. Nós da Associação dos Expedicionários Campineiros, estamos mais tristes e mais órfãos, pois perdemos não apenas um grande herói brasileiro, mas um grande AMIGO e COMPANHEIRO, sempre presente nas conquistas da associação e nos últimos anos sempre na torcida fiel pelos avanços da mesma!


Mais alegre está o céu em festa, onde Seu Justino vai se juntar à maior parte do contingente de seus amigos que já se encontram na eternidade, os outros 327 Heróis que pertenceram à nossa Associação! O nosso último expedicionário nascido em Campinas se foi... exemplo de vida, não só pela Guerra vivida, mas também no pós Guerra e até o fim de sua jornada terrena ontem.


Seu Justino Alfredo foi convocado como soldado para a II Guerra Mundial aos 23 anos de idade. Fez seus treinamentos em Caçapava, servindo no 2º Batalhão da 5ª Cia do 6º Regimento de Infantaria. Embarcou no 1º Escalão da FEB para a Itália aos 24 anos em junho de 1944. Naquele momento e a bordo do navio, ficou espantado quando se afastaram do Rio de Janeiro e contou “Quando não vi mais o Cristo Redentor, desconfiei que a coisa era séria!” Quatro meses após a chegada dos brasileiros à Itália, Justino e seus colegas de armas se deslocaram para um vilarejo da cidade de Lucca, onde conheceram um sapateiro, sua mulher e o filho, de apenas 3 anos chamado Gian Luigi, que passava dias sem ter o que comer. A família italiana tinha dinheiro, mas não havia onde comprar comida e o pai do menino não podia se arriscar muito longe de casa, onde se escondia no porão quando tropas alemãs apareciam, por causa do risco de ser levado para cavar trincheiras. O soldado campineiro, sensibilizado pelo estado de desnutrição da criança, passou a separar diariamente parte da ração e do farto café da manhã, fornecido pelos americanos, que entregava ao menino. Isso foi feito cerca de um mês, até que os expedicionários se deslocaram para outro lugar. Como agradecimento, antes de ir embora, o pracinha de Campinas recebeu da família uma foto do garoto, com a frase que dizia, em italiano "Ao Justino, com tanto afeto. Gian Luigi Pierotti".


Dentre tantas batalhas que participou como soldado no front no teatro de operações da Itália, as que mais marcaram foram: - uma das batalhas de Monte Castelo, uma das mais icônicas para a FEB, um expedicionário de Campinas foi atingido por uma granada arremessada dentro de seu 'fox-hole' (uma trincheira pequena). Amâncio Tofanello era um homem grande, forte e pesado, e, depois da explosão, teve que ser carregado rapidamente para não morrer. Os brasileiros tentavam tomar o alto da montanha ocupada pelos nazistas e o único lugar seguro por perto era a base do monte. Justino e mais alguns soldados armaram três padiolas, uma ao lado da outra. Colocaram três feridos atravessados por cima e desceram até o pé do morro, se arrastando sob tiros de fuzil e canhão. Suas fardas, joelhos e cotovelos terminaram o deslocamento esfacelados. Amâncio perdeu um olho, mas foi salvo pelo grupo heroico de pracinhas. Já outros dois soldados, amigos de Justino, não tiveram a mesma sorte. Os soldados Paulo Tansini e Oscar Rossin, campineiros, que estavam há cerca de 15 metros de distância do Seu Justino, nunca retornaram ao Brasil. Eles também foram mortos por estilhaços dentro de trincheiras.


Nas duas batalhas em que Seu Justino participou em Monte Castello, chegou a ficar 8 dias seguidos sem sair do buraco dentro da trincheira, onde adquiriu a chamada doença “Pé de Trincheira”. Sair da trincheira era um risco, porque os alemães atacavam... No inverno, esse mal fustigava as tropas de infantaria em consequência da permanência dos soldados em locais mais úmidos e frios, dificultando a circulação do sangue na extremidade do corpo, sobretudo dos pés, advindo daí a gangrena. Quando ele foi acometido da doença, precisou ainda andar mais de 1 km a pé com 28kg nas costas... até chegar na beira de uma estrada, onde ficou sozinho aguardando passar alguém... ninguém podia ficar ali com ele, pois diziam “a guerra não passa”... Ali ficou por mais de uma hora sem socorro, até que um jeep dirigido por um outro campineiro, Antônio Parma passou, o socorreu e levou-o para uma barraca de medicina. Ele chegou de volta ao Brasil e ainda ficou um ano doente sem poder trabalhar.


Quando Seu Justino voltou, na chegada no Rio de Janeiro, ele e outros companheiros feridos foram visitados por Getúlio Vargas e sua comitiva no hospital. Foi o Getúlio que entregou e colocou a “Medalha de Sangue” no Seu Justino! A Medalha de Sangue do Brasil foi criada em 5 de julho de 1945 com o objetivo de a agraciar oficiais, praças, assemelhados e civis, destacados no teatro de operações na Itália, e que ali tivessem sido feridos em consequência de ação objetiva do inimigo.


Para quem superou em vida: a dureza dos treinamentos para a Guerra, a vida em combate no front, a astúcia furiosa dos nazistas, a tragédia do pé de trincheira, o drama do esquecimento pelo seu povo, as tristezas e exigências de perder a visão... ele desafiou sua saúde e lutou bravamente por ela até o final! Seu filho médico Guacyro que acompanhou cada minuto destes dias do final da vida de Seu Justino, sabe bem disso. Tinha razão meu pai, o pracinha José Alfio Piazzon, amigão do Seu Justino, ao afirmar que “todos vão embora e o Justino vai continuar... ele é o mais forte de todos os expedicionários campineiros!”


Exemplo de garra, disciplina, determinação, coragem, caráter, ética, sabedoria e doçura... um homem doce! Valores e princípios estes que nos ensinava em todas as conversas, entrevistas e eventos nos quais dava seus depoimentos emocionantes ao público. Que falta vai nos fazer sua companhia e seu exemplo, Seu Justino!! E que responsabilidade nos deixa o Seu Justino, de continuar a missão de contar essa história para Campinas, e porque não dizer, para o Brasil!


Seu Justino deu inúmeras e sobejas demonstrações que despertaram e sempre despertarão PROFUNDA admiração e o MAIOR respeito de todos nós, assim como esperamos e desejamos que seja também de TODO o povo brasileiro! Nossos agradecimentos por TUDO que fez e compartilhou conosco sobre a FEB, lutando por um mundo melhor...
Seu Justino, sua missão foi mais do que BEM cumprida!


Combateu o bom combate, completou a corrida, guardou a fé!


Nossa ETERNA e PROFUNDA GRATIDÃO!!


Fica aqui nossa MAIOR REVERÊNCIA à sua JORNADA!! Descanse em PAZ HERÓI!!

Associação dos Expedicionários Campineiros

bottom of page